JÉSSICA
por Paloma Espínola
palomarorizespinola.blogspot.com
Foi de dentro da árvore, dormia lá no fundo. Tarumã. Um dia o rio se desviou, encostou no tronco, o sol lambeu a copa, os ramos, as folhas. Sentiu a água, abriu os olhos, os braços. Os olhos escuros. A mãe disse que iriam clarear. Todos os dias se espreguiçava, perguntava à mãe: “já clareou?” E eles ficaram claros. Muirapiranga. Esfregava um pé no outro, a umbuzada da tia, doce de banana de Jacobina: “o vento balança o coqueiro, mas não é sereia não, é o velho jangadeiro”: dormia na esteira de palha olhando as estrelas. Baiana. Cresceu, raízes rebentando a terra, saiu pelo mundo. O centro, o meio, zingareio, a saia rodando: seu rosto entrando em outras árvores, nas máscaras, no palco, a seiva, o silêncio. Jéssica: a noite emprestada à pele-madeira, o vôo, os galhos, os olhos claros, a árvore: por dentro, por fora, inteira.