sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Compartilho link para o texto "A revolução de um homem só" de Eduardo Losso. Acho a análise bem interessante. Importante estarmos atentos aos vícios e as virtudes.

"Não tomar vícios por virtudes, o que é um disparate dos fracos, nem viciar-se nas próprias virtudes, o que é uma grave fraqueza dos fortes".

Murilo Mendes  não está nada distante disso quando sentencia: “A virtude de um homem torna-se admirável, quando ele não lhe dá atenção. A burocracia da virtude é um fenômeno irritante”.

"Quanto mais os indivíduos de uma sociedade forem capazes de examinarem a si mesmos, adquirir autonomia, mais força e qualidade terão os movimentos sociais, e mais eficácia tais movimentos terão de modificar o sistema. Quanto menos eles forem capazes disso, mais os movimentos sociais tornar-se-ão uma mera parte da engrenagem do sistema e contribuirão para a sensação de impotência e a postura de resignação, o pessimismo fácil e cômodo. A aparência de insubmissão vai reforçar a crescente submissão".







Eis que 2013 está findando. O que significa esse momento festivo, em que a família se reúne ao redor da mesa e dos presentes, para além das milhares de mensagens de Feliz Natal, que parecem se repetir? O que significa o fim de ano, para além da bela viagem de descanso que irá repor as energias gastas? 

Análise, reflexão, pedidos e uvas? Pulos no mar, pé direito, champanhe? Que tipo de reflexão e contemplação podemos fazer? Acho que as mensagens de natal são tão parecidas, por que as pessoas não se conectam de verdade para realmente desejar algo. Como será que temos feito nossas reflexões e análises de 2013? 

Temos que ter cuidado com o hábito de lançar um olhar angustiado sobre o que não conseguimos realizar ou ganhar. Esse hábito de olhar para o que não foi feito joga uma névoa sobre o ano que ainda virá. Muito importante contemplar sobre o que deu certo, o que foi conquistado. Ganhar fôlego e entusiasmo para continuar se movendo. 

Acho muito importante fazer uma contemplação quando um ciclo está por findar. Há oito anos eu sempre faço. Nos sentamos em profundo silêncio, respiramos, entramos num espaço íntimo e profundo. A partir desse lugar profundo, que sabe o que realmente importa e o que realmente deseja, olhamos para os erros, as conquistas e para o que ainda queremos realizar. 

Eu virei de 2012 para 2013 num dos lugares mais especiais do mundo. Lembro que estava trabalhando muito e não tinha feito minhas resoluções para o ano novo. Até que um dia, nossa mestre nos disse que não era importante fazer resoluções para 2013. Foi estranho e transformador. Entendi que minha principal missão é estar conectada com o coração, que sabe me indicar tudo o que realmente é importante. Nenhum desejo é mais importante do que estar conectado. Nada é mais importante do que o amor por si mesmo. Não adianta desejar trabalhos maravilhosos, carros, viagens incríveis, encontros inesquecíveis se não estivermos prontos para recebê-los.

Vou me preparar para receber este próximo ano com o coração aberto!!! Não para que as coisas aconteçam de acordo com os meus cálculos e desejo, mas para que eu possa viver sem antecipar o mistério de mais uma etapa que ainda estar por vir, para que eu possa viver cada coisa de um lugar profundo e inteiro. 



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

pela inocência e lucidez dos meus 28 anos, que se cumprem hoje, num dia em que a Lua é cheia... 





No alto de onde estás, na fresta violenta de beleza que insiste em me abrir o peito e me fazer miúda, te vejo, redonda como uma mulher prenha, exposta como o olhar dos que faíscam de amor.

Insistes toda noite em lançar-se sem piedade no mar. Exibi-se indiscretamente no céu, para que todos te vejam. Roças com prazer tua luz quente na areia úmida da praia. Não tem pena? Não te cansas? Por que você deseja, mesmo quando é dia, e o Sol nos cega e te oculta, arder silenciosa e secreta em pura luz? De dia Lua, não descansas. Tu arde como um segredo. 

Lua menina, mulher e velha. Quantos amores provocastes, quanto choro foi derramado por tua culpa? Menina viçosa e inocente, virgem e perfumada que anseia o toque primeiro. Velha gasta, sabedora da mágica das marés. 

Como uma mulher que corre louca, com o corpo exposto em chamas, e pega velocidade para alimentar as flamas, numa fricção violenta com o vento... 

Nas flamas da louca, o pacto da combustão com o ar, em ti o pacto monstruoso de ser o mais belo deleite, não de um, mas de todos. Por isso escolhestes viver distante. Tua beleza na terra provocaria infindáveis guerras entre os homens. Tua sensualidade provocaria a ira invejosa das mulheres. A ganância tentaria te fazer mercadoria, te colocaria um preço. 

Você é rainha e ao mesmo tempo mendiga. 
Nem do mar, nem dos céus, nem de reis e nem de homens comuns, mais de todos! Rainha, o poder de ser exatamente aquilo que quer. Mendiga, tu dormes bêbada em qualquer calçada, ao mesmo tempo que nada possui, já tem tudo, todas as ruas são tuas, a cidade te pertence. 

Permaneces alta para que ninguém te toque, para que teu manto luminoso sempre caia sobre a terra.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Na Neblina





Os olhos, mistério. Um ator e uma vida interior tão complexa, quanto a própria vida. Ação: uma personagem sai de um buraco coberto por neve para procurar comida, cena do filme Na Neblina de Sergei Loznitsa. Essa personagem vai na casa de uma família que o acolhe, come, pega suprimentos, e na volta para o esconderijo encontra soldados alemães. Os soldados lhe ordenam que os levem ao lugar onde ele pegou a comida. Nesse momento, a mágica de um bom ator me impressiona. Primeiro vemos a personagem pensar que não pode trair a família, que deve protegê-los e por isso, não vai levar os soldados lá. Depois os olhos da personagem vêem a morte. No fim dessa cena, eu estava certa que ele não levaria os soldados lá e que morreria. Próxima cena: o homem resolve salvar a própria vida e se torna um traidor levando os soldados até a casa. Eles matam toda a família. Por isso, um bom roteiro e um bom ator são dois elementos importantes para que o jogo da cena possa ser tão interessante. 


Poderia falar de aspectos históricos, políticos, morais e humanos deste filme. Só que o que mais me move agora é a complexidade de sentidos que uma obra de arte exige, é a questão do tempo de maturação que o cinema obriga, é a arte do ator. Depois de assistir esse filme posso dizer que não acredito que ao ator baste presença. A presença é fundamental para que a cena aconteça quase que de maneira real, vivida, sentida. Só que além de ter presença, o ator precisa ser inteligente, estrategista. Adoro ser enganada por um ator, por que é isso que a vida faz isso com a gente o tempo inteiro. O ator nos mostra nos seus olhos uma direção oposta ã que ele seguirá na sequência seguinte. Ele é fiel ao roteiro, sabe que deve levar os soldados lá, mas em segundos nos aponta uma direção diferente. 

Na Neblina me faz pensar muito em como o artista precisa ser amigo do tempo. Amadurecer é levar porrada, ouvir críticas, se doar, realizar e poder ainda assim desacreditar do que foi feito. É se permitir ter urgência, tropeçar, cair, ferir, e é também se atirar, voar, ganhar reconhecimento. A obra exige que olhemos para ela com tempo, com calma, com um espírito artesão e livre. A obra nos suplica que nos lancemos para ela sem nos poupar e que talvez pelo meio do caminho a abandonemos, por que ela já não nos faz mais sentido. Um artista precisa ser um buscador por natureza, ele deve questionar o mundo, propor novas formas, provocar que novos olhares se abram para o mundo. O mundo ao mesmo tempo que parece se transformar numa velocidade rápida ainda mantém estruturas muito antigas. A missão do artista é que se mova a cada dia, que amplie seu olhar, descubra novas formas sempre.

A indústria exige produtividade, números, público, sucesso. Na indústria se fabrica produtos para serem consumidos, devorados pelo sucesso. O sucesso é muito importante, o dinheiro possibilita a produção nessa estrutura capitalista em que estamos inseridos. O sentido de uma obra, todo pensamento por trás dela, ainda é o mais importante para mim. Isso é ser artesão de alguma forma. O artesão se permite olhar primeiro, aceita não ver nada, para encarar novamente e logo depois ver fundo, tão fundo que descobrirá coisas jamais vistas antes. O tempo de maturar, com a calma que uma obra exige, e ao mesmo tempo com a constância e o vigor necessário para que ela não morra. Sou artesã e meu ritmo insiste em ser lento. Acabo indo contra o ritmo acelerado do metrônomo que toca o tempo inteiro nos ouvidos, pedindo para que a gente corra, pedindo para que a gente dê conta de muitos projetos, de muitas conquistas, de muitos títulos, de muitas teorias. 

Na cena inicial do filme, nos é revelada uma carroça com muitos ossos de um boi, pelo áudio escutamos pessoas sendo enforcadas. Esse filme nos coloca diante de diálogos maduros que nos comunicam muito com uma economia impressionante de fala. Quando um diretor deixa que os figurinos falem, que os cenários e as locações comuniquem, e escolhe atores de olhos vivos que sabem ser tão bons estrategistas quanto um diretor precisa ser, assim a chance de se ter um bom filme é grande. Um bom filme é um filme que nos move. Recomendo Na Neblina, de Sergei Loznitsa.

A beleza da vida muitas vezes surge num suspiro de pausa, numa lua selvagem furando o mar, nas coisas para as quais não queremos olhar...

domingo, 1 de dezembro de 2013



Na mansa pele molhada que escoa, um corpo!
E desejo navega em direção ao mar...
Não ter terra alguma,  
ser estrangeiro em todo canto.
É saber brincar de ser rei e rainha!