quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

pela inocência e lucidez dos meus 28 anos, que se cumprem hoje, num dia em que a Lua é cheia... 





No alto de onde estás, na fresta violenta de beleza que insiste em me abrir o peito e me fazer miúda, te vejo, redonda como uma mulher prenha, exposta como o olhar dos que faíscam de amor.

Insistes toda noite em lançar-se sem piedade no mar. Exibi-se indiscretamente no céu, para que todos te vejam. Roças com prazer tua luz quente na areia úmida da praia. Não tem pena? Não te cansas? Por que você deseja, mesmo quando é dia, e o Sol nos cega e te oculta, arder silenciosa e secreta em pura luz? De dia Lua, não descansas. Tu arde como um segredo. 

Lua menina, mulher e velha. Quantos amores provocastes, quanto choro foi derramado por tua culpa? Menina viçosa e inocente, virgem e perfumada que anseia o toque primeiro. Velha gasta, sabedora da mágica das marés. 

Como uma mulher que corre louca, com o corpo exposto em chamas, e pega velocidade para alimentar as flamas, numa fricção violenta com o vento... 

Nas flamas da louca, o pacto da combustão com o ar, em ti o pacto monstruoso de ser o mais belo deleite, não de um, mas de todos. Por isso escolhestes viver distante. Tua beleza na terra provocaria infindáveis guerras entre os homens. Tua sensualidade provocaria a ira invejosa das mulheres. A ganância tentaria te fazer mercadoria, te colocaria um preço. 

Você é rainha e ao mesmo tempo mendiga. 
Nem do mar, nem dos céus, nem de reis e nem de homens comuns, mais de todos! Rainha, o poder de ser exatamente aquilo que quer. Mendiga, tu dormes bêbada em qualquer calçada, ao mesmo tempo que nada possui, já tem tudo, todas as ruas são tuas, a cidade te pertence. 

Permaneces alta para que ninguém te toque, para que teu manto luminoso sempre caia sobre a terra.

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