sexta-feira, 30 de abril de 2010


Sacradança
obra musical de Thiago Amud
por Antônio Máximo Ferraz

VISITEM: http://www.myspace.com/thiagoamud

Com um olho posto na interpretação de nosso tempo, e outro na perene condição do homem, Sacradança é a encenação da divina comédia dentro da qual ele já está desde sempre lançado, a transitar entre o divino e o diabólico. Os dez cantos que compõem o poema apresentam uma chave iniciática: o divino é o abrir-se reverencial do homem para o que o excede (e paradoxalmenteo engrandece). O diabólico é a obliteração do mistério nas mais variadas formas de extravio - do voluntarismo subjetivista ao mercado das ideologias - que terminam por apequenar o humano e torná-lo o sal insípido, com o qual não há de se salgar a Terra. Sob o regime de dessacralização diabólica, o homem se torna a própria Terra Mãe na menopausa.

Entrecruzando uma multiplicidade de vozes, gestos e posturas, Sacradança defaz a idéia de que a música seja somente a expressão dos sentimentos do compositor. Quem prioritariamente fala na obra - e não em seu significado ordinário, como instrumento humano de comunicação, mas como a divina colheita em que se assoma o sentido da pertença do homem à Terra. Trazendo o drama da linguagem para o proscênio, Sacradança realiza um tenso diálogo entre a tradição e a contemporaneidade. Daí resulta uma tessitura musical cheia de dinamismo, em que a canção ora se choca, ora se harmoniza com arranjos que vão do lirismo ao patético e à agonia. Isto é feito com um tônus freqüentemente irônico, de modo a incorporar, na própria estrutura musical da obra, as tensões que ela põe em movimento.