quarta-feira, 13 de outubro de 2010
INDICAÇÃO TROFÉU RAÇA NEGRA 2010
http://www.trofeuracanegra.com.br/website/index.php?option=com_pollxt&Itemid=18
Pré-estréia do Besouro em São Paulo
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010
MIRA
grande atriz: Patrícia Costa
Toda vez quando está pertinho do ano findar eu faço a minha retrospectiva e preparo as minhas intenções para o ano que chegará. Esse não é um texto de retrospectiva, mas mal começo a escrever sobre o presente e caixinha de memórias começa a piscar. Ano passado eu lancei o meu primeiro filme, Besouro, já parece que faz tanto tempo. Participei de um festival de cinema que me deu um prêmio de atriz revelação, mas que na verdade o grande prêmio que levei daquela noite foi a sensação de me sentir incluída. Foi muito engraçado o que senti naquela noite. Tanta gente que admiro estava presente, Zezé Mota, Antonio Pitanga, Elza Soares, Dona Lúcia Rocha (mãe do Glauber Rocha)...e eu estava sentada ao lado deles, no palco, essa sensação foi o meu maior prêmio. Quando 2009 ia virar 2010 coloquei no meu quadro de intenções muitas imagens de teatro. Uma foto do Ensaio.Hamlet (Cia dos atores) representando coletividade, Quartet do Bob Wilson com Isabelle Huppert me convidando a correr riscos...Fui viver a emoção de estar com um filme no Festival de Berlim, entreguei até um Teddy Awards, oscar do cinema gay, e voltei para a Escola de teatro. No meio do primeiro semestre de repente surge Jayme Periard e um convite para a peça Pedaços de Mim. Mulheres, desejos, dores, alegrias, o palco enorme do Teatro Clara Nunes e sobretudo o conhecimento que esse grande ser humano me passou. Eis que surge Orfeu, meu primeiro musical. Agora mais do que nunca eu estava vivendo de maneira concreta tudo o que eu tinha intecionado. Não cheguei a desejar o Aderbal, pois nem pensava em apostar tão alto. Ele veio com seus livros, seu sorriso sem fim, sua gentileza. Mira era tão distante de mim e agora já é tão próxima, ela me ensinou que estar em dias com a auto-estima ajuda muito na hora de pisar no palco. Todo mundo que veio junto com ela foi o grande presente deste ano, nem cabe aqui o que aprendi, o que caminhei. Caberá nos palcos, na estrada de atriz que agora percorro com mais vontade ainda, com medo e ansiedade, mas com muito mais confiança e tranquilidade.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
por caetano veloso
O Globo - RJ - NOTÍCIAS - 03/10/2010
É inacreditável que Barbara Heliodora tenha escrito que um autor teatral não pode usar o tratamento na segunda pessoa. E muito significativo que ela tenha lançado esse anátema como condição para que uma peça se considere brasileira. É a mesma mentalidade que leva um tradutor de Proust a evitar a palavra “raparigas” e tradutores de textos complexos a correrem da tmese como o diabo da cruz. Até parece que estilos nascidos desse tipo de pânico primam pela clareza e pela elegância.Mas não. Leem-se textos onde o único mérito parece ser o do esforço para evitar mesóclises e segundas pessoas. Erros variados e escorregadelas para a pedanteria não são sequer notados por muitos dos que se contorcem nesses dribles. Outro dia, por causa de meus protestos contra o medo da mesóclise, recebi alguns e-mails corrigindo minha suposição de que talvez algo do problema se devesse às campanhas dos sociolinguistas. Dei razão aos que me corrigiram. Mas a verdade é que esse à vontade com que Barbara Heliodora proíbe o uso do tratamento em segunda pessoa não pode deixar de se dever, em parte, a tal campanha. É difícil que simplesmente coincida com ela.Quando eu mantinha um blog para acompanhar a feitura do projeto “Zii e Zie”, disco e show, escrevi, em tom ainda mais apressado e irresponsável do que o faço aqui, sobre as perguntas que me fiz ao ler um bom livro sobre tendências do português brasileiro.Como a descrição da frequência do uso do “você” levava a autora a expor os pronomes pessoais sujeitos como sendo “eu, você, ele, ela, nós, vocês, eles, elas”, em vez de “eu, tu, eles, nós, vós, eles”, fiquei com a impressão de que se sugeria que passássemos a ensinar nas escolas esses pronomes mais usuais — e as variações verbais que os acompanham — e abandonássemos o “tu” e o “vós”, que não usamos na conversa.Descrevi o mal-estar que isso me provocava e enumerei as várias formas conversacionais em que a segunda pessoa do singular é usada comumente.Do “tás me estranhando” carioca ao “viste” (ou “visse”) pernambucano; do “tu é mesmo mané”, também do Rio, ao “tu fala demais” dos gaúchos. Lembrei que em Belém do Pará se flexiona o verbo para a segunda pessoa com considerável frequência.E mencionei o fato de que as crianças entendem perfeitamente bem o que quer dizer um samba-canção ou um rock-balada em que o cantor se dirige à amada na segunda pessoa. Isso sem falar nos textos eruditos.Por causa da reação de alguns comentaristas do blog, fui ler os sociolinguistas militantes — esses que odeiam os professores que ensinam regras de português em jornais ou na TV. Percebi que há uma confusão entre observar como a língua muda e querer desfazer toda a normatividade já consagrada. A explicação era sempre que a norma culta é uma espécie de ideologia da classe dominante que oprime os desassistidos.Nunca passava pela cabeça desses heróis que essa norma tinha se desenvolvido pelo mesmo processo para o qual eles querem chamar a atenção no presente. O povo é o inventa-línguas. A contribuição milionária de todos os erros. Sim. Mas desde sempre. Por que desqualificar a contribuição de milhões de falantes do português que, através dos séculos, nos trouxeram até onde a língua se encontra agora? Então a ideia é que só valerão as regras que se criarem a partir do surgimento de uma sociedade justa e sem classes? Quando é mesmo que vai ser isso? É simplesmente ruim desistir de adestrar nosso povo para o entendimento da nossa língua em todos os seus registros. O português lusitano e o africano, o do sertanejo iletrado e o do doutor em sociologia, o do poeta renascentista e o do teatrólogo moderno, o do cientista e o do sacerdote.Eu próprio não me sinto seguro ao escrever. Cometo erros de ortografia. (Numa resposta a Xexéo — cujo nome já está quase passando o de Liv Sovik em frequência aqui nesta coluna — na época do réveillon em que, no “JB”, eles criaram uma maluquice envolvendo Paulinho da Viola, escrevi “analizar” — ou algo equivalente.Sem memória visual de como era a palavra, segui ( s e m p e n s a r ) uma regra abstrata (isso acontece menos em inglês ou em francês, mas não vou explicar agora por quê). Xexéo, mais uma vez, zombou de mim. Bem feito. E muitas vezes me vejo enrolado na construção de uma frase.Mas amava meu professor de português do Ginásio Teodoro Sampaio, Nestor Oliveira (poeta de olhos azuis e voz bonita) e Dona Candolina (preta gorda competentíssima e energética), do Severino Vieira. E gosto de literatura e de que o acaso tenha feito com que falemos português.Em Londres, quando chegou o disco de Roberto Carlos que tinha “Detalhes”, ouvi a canção com respeito e frieza.Mas quando veio o verso “E até os erros do meu português ruim” eu caí no pranto.Alguém dirá que tenho chorado demais aqui — e sempre por causa de música.Mas é assim. Não quero entrar no mérito da crítica de Barbara Heliodora aos arranjos que Jaques Morelenbaum e Jaime Alem fizeram para as música de Tom: não vi o “ Orfeu ” no Canecão (estou em São Paulo), de modo que não sei se a shakespeariana crítica sentou-se perto de algum alto-falante rachado.Nem quero pensar nisso para não chorar de novo.Mas o “tu” dos versos e das canções não pode ser anatemizado por um preconceito mais idiota e opressivo do que o que pareceu ser o meu quando disse, numa entrevista até bem razoável, que Lula é analfabeto.