“Ai a princesa mais bonita
Ai jovem moça esquecida
Ai insensato navegante
O infinito num instante
Num instante”
Uma mecha branca no cabelo aos 12 anos de idade é vestir-se do mais puro mistério. Assim era ela, aurora escondida dentro de noite de lua. Maria das Dores, a Dorinha. O tempo de seus olhos era dos marinheiros e dos seus navios. Um dia um marinheiro veio e lhe perguntou seu nome, e ela disse, Dorinha. Um sorriso trocado e eles se foram navegar. A menina até aquele dia tinha lançando sua esperança de ir-se no horizonte. Foram alguns anos morando no mar. E quando os filhos viraram 4 eles resolveram buscar a terra firme. Chegaram no porto da Glória. Tudo parecia uma grande fazenda. De lá dava para ver o outeiro da glória e o mar espumava onde hoje é a rua das feira. Dorinha caminhou pela Glória entre as polacas. Ela ainda era muito menina quando chegou no Rio de Janeiro. Em sua moradia marítima ela se esquecera muita coisa sobre ser humano e aprendera muita coisa sobre ser peixe, ser estrela e ser tempestade marítima. Sua casa no Rio era o barco. Um dia Dorinha foi dar uma volta com as crianças e quando voltou o barco tinha ido embora. Sem entender por quê, se deparou com a rua e aquelas 4 crianças. O menino e a menina mais velha foram para internatos. As de 2 e 3 anos ficaram na rua mendigando com a mãe. Dorinha estava decidida a encontrar seu marido e dedicou sua vida a isso. Trabalhando em hotéis desvendou o segredo das polacas da rua Cândido Mendes. Foi camelô na central do Brasil, doméstica e dançarina.
Um dia estava saindo do trabalho e viu o barco. O ar ficou suspenso e a boca seca. O marinheiro tinha morrido e aquele barco agora lhe pertencia. O mesmo mar que levou seu marinheiro lhe trouxe a herança, que foi transformada em um apartamento na rua do riachuelo. Dorinha não se arrepende. O mar da Glória virou asfalto, e o porto de lembranças desapareceu junto com as polacas da rua Cândido Mendes.
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