sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Metropolis

Friedritchstadpalast, 12 de fevereiro em Berlim.

“ Head and hands need a mediator”
“The mediator between head and hands could be the heart”

A Berlinale começa para mim com um filme que teve sua primeira première em 1927. Depois de oito anos sendo restaurado, ainda faltavam alguns trechos do filme para que ele ficasse completo. Até que foram encontrados os negativos em 16mm, contendo o último corte original, em Buenos Aires, no Museo del Cine Pablo Ducrós. O filme foi exibido com a orquestra sinfônica de Berlim tocando ao vivo. Ao sentar na minha poltrona e ver aquele teatro imenso sem nenhuma cadeira vazia, todos aqueles instrumentos no palco e aquela tela enorme, fiquei muito emocionada. Me dei conta de que estava participando desse festival da melhor maneira possível. É indescritível a sensação de ver um filme com uma orquestra tocando ao vivo.
Fritz Lang dá o seu grito. Ele fala sobre a construção das cidades, ele fala dos homens, das relações humanas, ele sente o mundo e cria, ele cria e sente o mundo. A história fala sobre a vida mas não se disfarça de vida. O filme é “mudo”, afinal de contas, é 1927. Pouco texto e muita ação, no sentido de atuação. A interpretação não tem nada de contenção, de realista, de naturalista. É puramente expressiva. Os corpos dos atores traçam desenhos geométricos. O preto e branco ajuda a ressaltar outros elementos do filme. Por mais que não tenha sido uma opção naquela época, a ausência de cores faz parte da história que é contada nesse filme. Máquinas, fumaça, operários, a metropolis se erguendo, alta, potente e massacrante.
Um filme de Fritz Lang com trilha de Gottfried Huppertz em preto e branco. É realmente muito bom poder ver numa tela enorme uma obra de arte. Os cenários dos filmes de Fritz Lang eram feitos por artistas plásticos, escultores. Risco e expressividade em máxima potência. Por que a gente perdeu isso? Sinto saudade do cinema que não vivi. O silêncio pode nos ajudar a escutar de maneiras novas. A indústria cinematográfica existe, ela quer dinheiro, quem não quer? Será que não há espaço para a arte e a indústria co-existirem ou o mundo de hoje é que anda menos inspirado? Por enquanto, recordar é viver...

Nenhum comentário:

Postar um comentário