sábado, 21 de setembro de 2013

                                                         foto de Jéssica Barbosa         

Não gosto de ver poesia compartilhada na rede como se fosse uma frase do "minutos de sabedoria" sorteada na caixinha. Tenho muito cuidado ao compartilhar trabalhos artísticos na rede para não inseri-los numa dimensão demasiadamente cotidiana. A arte tem que fazer parte do cotidiano, mas a arte é extra-cotidiana, a poesia nos exige um estado. Eu tenho gostado mais da arte que me exige, que me abre fendas, que me mostra outras dimensões. Com a poesia eu posso sentir mais intensamente o que vivo, dar uma pausa nas demandas que a realidade exige ou ainda enxergar as demandas com luzes de outras cores. A poesia abre espaços imensos de compreensão, de dúvidas. Certamente uma frase pode iluminar o dia. Existem muitos textos, canções e vídeos que precisam ser compartilhados, sentidos, debatidos e a rede é um espaço maravilhoso de acesso. 

Será que deveríamos ter algum tipo de cuidado ao compartilhar uma obra de alguém ou o trabalho da apreciação deve ser feito posteriormente por parte de quem acessa? O que acontece quando pego uma música e coloco como toque do meu celular? Será que não estou "condenando" a música como as novelas já fazem? É como falar muito sobre algo tentando desvendar o mistério quando o mistério é exatamente o ponto de luz. O trabalho da apreciação artística, muitas vezes, pode ser somente contemplativo, podendo ser feito por parte de quem acessa, mas quem compartilha pode instigar que esse trabalho seja feito. Talvez eu esteja querendo falar sobre diálogo. 

Que tipo de diálogo temos com nossos amigos, na nossa faculdade, com nossos professores? O quanto conseguimos nos aprofundar nos debates relativos à arte? Qual a qualidade da troca que se dá hoje na internet? O espaço é tão grande que eu sinto que preciso estar sempre atenta, ir além do gostar e do não gostar.
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Toda essa introdução para dizer que estou numa fase de redescoberta de minha escrita, alimentada por afetos aos quais estou exposta. Considero a minha escrita ainda como um rabisco, são traços, rascunhos, intenções. Compartilho-a aqui, por que olho para ela, não a sinto mais como minha, e sinto a necessidade de expô-la a outros olhos. 

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                                                foto de Jéssica Barbosa


Madrugada,

Sereia insone e fria
Deusa inconstante
Por que me clama assim?

Desejosa de mim,
da minha carne cor de noite
Do meu ventre melancólico e quente

Sanguessuga, alimento,
de tudo que evoca
Vem, atiça dama! Vem, guerrear comigo

Noite adentro, lua alta
Minha pele amorna ao ser envolvida por ti.
Nessa hora escuto ainda mais alto teu clamor

Tu és uma espécie de planeta
Morada de poetas e vadios
De bêbados e putas, que festa!

Ai! As putas que por sobre ti vagueiam...
Quero deleitar sobre seus seios quentes, vividos,
sujos, violentos e amorosos , todos os meus desejos!


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